Olho por olho, dente por dente
É evidente que todo este conflito em curso na Ucrânia, aliás, tanto este como qualquer outro, é condenável e de se reprovar veemente- não há povo nenhum que mereça sofrer os horrores da guerra e nada, mas absolutamente nada, justifica a violência! Em lado nenhum do mundo. Dito isto, e para que não restem quaisquer dúvidas, vale a pena ponderarmos sobre o que se está a passar no mundo digital no contexto desta guerra.
Volodimyr Zelensky, o presidente da Ucrânia, tinha a 12 de fevereiro do corrente ano 9,278,117 seguidores na sua conta oficial do Instagram o que não era nada significativo atendendo que o país tem aproximadamente 43 milhões de habitantes. No espaço de um mês- o tempo que já decorre esta guerra- Zelensky conta com quase mais 7 milhões de seguidores da sua conta nesta plataforma!
Desde o início da guerra na Ucrânia que as redes sociais têm vindo a ser inundadas por conteúdos ofensivos e carregados de ódio, incentivando comportamentos violentos e até a morte de dirigentes como Putin ou Lukashenko. Numa atitude inusitada, a Meta (Facebook e Instagram) anunciou que vai permitir aos users nos países do leste da Europa a publicação de posts pedindo, e até exigindo, actos de violência contra os Russos e os seus soldados, o que representa uma viragem radical na política do grupo contra discursos de ódio e formas de expressão política.
Face a esta postura do grupo Meta, a Rússia baniu as suas plataformas do seu território e encerrou as plataformas privando o acesso a mais de 67 milhões de usuários. Medida de retaliação mas também, mais uma tentativa de ofuscar o alcance da poderosa comunicação de Zelensky cujo percurso e projecção tem sido vertiginosa.
Esta guerra é, também, digital!
Em todas as guerras da modernidade sempre assistimos a políticas de comunicação e manipulação através da propaganda de cada lado da barricada no entanto, nada se compara ao que tem vindo a decorrer durante esta guerra de invasão Russa à Ucrânia, sendo as redes sociais o principal palco de divulgação da informação e consequente poder de influencia da opinião pública. A título de exemplo, no Twitter o presidente Ucraniano no espaço de 1 mês conquistou mais de 5 milhões de novos seguidores, tendo tweetado cerca de 300 vezes nestes últimos 30 dias.
O vice primeiro ministro Ucraniano e ministro para a Transformação Digital, Mykhailo Fedorov, de 31 anos, tem pressionado gigantes da tecnologia para que boicotem a Rússia, convocando hackers a partirem para o ataque e, efectivamente, foram constituídos vários “exércitos digitais” nesse sentido, atacando não só os sites russos como também sistemas de empresas que não aderiram ao boicote de bloqueio à Rússia – como o mais recente exemplo da Nestlé. Fedorov conseguiu ainda que Elon Musk movesse satélites para beneficiar a Ucrânia com um poderoso sistema gratuito de comunicações, nomeadamente de internet.
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Por outro lado, a Rússia que, ao que tudo leva a crer já planeava esta guerra desde há muito, conseguiu uma parte significativa do seu financiamento através de actos de pirataria informática, atacando os sistemas de inúmeras empresas de todo o mundo e pedindo resgates para a reposição dos mesmos. Longe estaríamos nós, os comuns cidadãos do mundo ocidental, de imaginar o que estaria para acontecer…
Esta guerra é, também, digital mas vale a pena reflectirmos sobre o poder das redes sociais e do mundo digital no seu todo: será legitimo permitir o incentivo a comportamentos violentos? Justificar-se-á a exacerbação do ódio entre povos vizinhos que estão destinados a conviver lado-a-lado? Estarão os usuários digitais da actualidade num estado “suficiente” de maturidade que lhes permita consumir, interpretar e filtrar a torrente de informação que todos os dias consomem avidamente? Convido-o desde já a deixar aqui a sua opinião.
É urgente terminar a guerra. Esta e todas as outras. É igualmente importante sabermos tirar partido – ou será proveito? – do que o mundo digital nos proporciona e a todo o custo não entrar no lema de “olho por olho, dente por dente” que se torna num modus vivendi non stop.